quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O BENEFÍCIO DA ACUPUNTURA NA ODONTOLOGIA

Introdução:

As dores crânio-faciais são altamente prevalentes na população em geral e motivo freqüente de procura assistencial à saúde. A face é composta predominantemente pelo aparelho mastigatório e as doenças dos órgãos dentários, dos maxilares, dos músculos da mastigação e das articulações temporomandibulares (ATM) são causas freqüentes de dor facial e de cefaléias secundárias.
As dores odontológicas compõem predominantemente o grupo de síndromes álgicas amplamente reconhecido com a denominação de Dor Orofacial. Sob o aspecto clínico este grupo engloba dores provenientes dos dentes, boca e dos maxilares; sendo que estas dores têm diferentes origens teciduais e, a exemplo de outras áreas do organismo humano, elas podem ser de origem somática, neuropática e de anormalidades na área da saúde mental. Além disso, a face destaca-se pela presença de estruturas típicas como os dentes e seus anexos, pela complexidade anatômica em geral desse pequeno segmento do corpo, incluindo os diferentes aspectos da inervação trigeminal, pela presença da mandíbula como osso móvel e com duas articulações separadas e interdependentes e pela importância psicológica e social.
    Para que os tratamentos em uso atual alcancem o sucesso deles esperado é indispensável o diagnóstico correto e o estabelecimento do objetivo de cada tratamento. Quando há causas, como na maioria das dores dentárias, é necessário eliminá-las através de tratamentos operatórios há muito em uso, embora, nestes casos várias medidas podem ser utilizadas para o controle da dor. Em outras situações, a exemplo das dores músculo- esqueléticas da face, amplamente conhecidas como        Disfunções Temporomandibulares (DTM), as terapêuticas visam aliviar a dor e melhorar a função mandibular.
    Portanto, para estabelecer a importância da acupuntura na dor orofacial deve-se conhecer uma classificação que permita diferenciar as diversas dores do segmento, para que possamos determinar qual o papel dessa técnica milenar em nossa abordagem terapêutica.

1) CONDIÇÕES ONDE A ACUPUNTURA PODE SER EFICAZ

1.1. Disfunção Temporomandibular (DTM)
    As Disfunções temporomandibulares, comumente conhecidas como Disfunção da articulação temporomandibular (ATM), são anormalidades e dor proveniente do sistema mastigatório. Na verdade, o nome DTM é genérico e se refere a vários subgrupos de dores músculo-esqueléticas relacionadas à atividade mandibular e, portanto, engloba as condições dolorosas crônicas decorrentes dos músculos mastigatórios, das articulações temporomandibulares e das estruturas associadas.
       Assim, basicamente, as Disfunções Temporomandibulares podem ser de origem:
- muscular
- articular
- mista

SINAIS E SINTOMAS QUE SUGEREM DTM DE ORIGEM MUSCULAR

a) dor
  • normalmente em pressão ou cansaço, embora existam outras manifestações como pontadas, latejamento, queimação e espasmo.
  • difusa em várias regiões da face como: ouvido, pré-auricular, face, fundo dos olhos, ângulo mandibular, nuca, têmporas. Pode espalhar-se às adjacências, normalmente é unilateral, eventualmente bilateral e freqüentemente migratória (ora um lado, ora no outro lado da face);
  • nem sempre é desencadeada pelo movimento mandibular;
  • dor muscular à palpação é fortemente sugestiva; presença de fibroses, endurecimento muscular e eventualmente pontos dolorosos.
b) A limitação de abertura bucal não é achado freqüente, exceto em casos agudos ou períodos de crises.

c) Irregularidades nos movimentos mandibulares.

d) Fatores perpetuantes: 
bruxismo, sinais de apertamento dentário, próteses irregulares ou mal adaptadas, respiração bucal, má postura cervical, estressores psicológicos, dores crônicas em outras partes do corpo.

e) Alterações oclusais (mordida aberta) ou faciais na fase aguda, ou em períodos de crises.

f) Alterações otológicas (zumbidos), eventualmente atribuídas ao bruxismo, ou à musculatura cervical.

SINAIS E SINTOMAS QUE SUGEREM DTM DE ORIGEM ARTICULAR
    Algumas condições de dores articulares agudas podem ser aliviadas pela acupuntura, como a artralgia traumática. Neste caso, a dor é tipicamente unilateral, localizada e quase sempre relacionada à função mandibular. Quando aguda, ela pode ser acompanhada por edema na região pré-auricular, há hiperalgesia desta área e restrição do movimento mandibular. Com o passar do tempo, a dor aguda pode gerar sensibilização central, atividade muscular secundária e espalhamento da dor.


Os sinais e sintomas podem ser:

1) Dor: localizada na região pré-auricular, espontânea ou provocada, normalmente desencadeada pelo movimento mandibular

2) edema na região pré-auricular

3) limitação de abertura bucal

4) Irregularidade nos movimentos mandibulares

5) Travamentos da mandíbula à abertura ou fechamento bucal

6) Alterações oclusais (mordida aberta) ou faciais

7) ruídos articulares: estalidos ou crepitação

8) alterações otológicas (zumbido)


1.2. Diagnóstico diferencial

     Estudo epidemiológico, realizado entre 45.711 famílias americanas não-institucionalizadas, em todas as faixas etárias, sobre a prevalência de dor orofacial indicou que 22% da população avaliada apresentara, nos últimos 6 meses, uma das seguintes dores: dor de dente, sensibilidade na mucosa oral, ardência bucal, dor na ATM e dor facial (LIPTON et al., 1993). Levantamento recente sobre as dores mais freqüentes na população brasileira indicou que lombalgia (65,9%), dor de cabeça tensional (60,2%), dores musculares (50,1 %), enxaqueca (48,6 %), dor de estômago (43,2 %), dor nas costas (41,2 %) e dor de dente (38,4%) constituíam-se nas principais queixas (CREMS, 1994). Estes dados confirmam, também entre o brasileiros, que o segmento cefálico é um dos locais de maior prevalência de dor, inclusive a de origem dentária e do segmento maxilo-mandibular. Isso se justifica porque a o segmento cefálico é uma região rica em estruturas anatômicas e sabe-se que sinais e sintomas de dor provenientes de fontes diferentes, podem se sobrepor (BRUNETTI & LIVEIRA, 1995; THOMÉ, 1993) gerando fenômenos dolorosos como a dor referida. Estes fenômenos secundários decorrentes da dor são freqüentes, ampliam a área dolorosa, dificultam a localização da dor (HARDY et al, 1950; INGLE et al, 1979) e consequentemente, o diagnóstico correto.
    A acupuntura é um ótimo auxílio no estabelecimento do diagnóstico correto, pois ajuda na eliminação de dores provenientes destes fenômenos secundários, determinando uma terapêutica adequada para cada caso.

1.3. Diminuição no consumo de medicamentos
    Nos casos de indivíduos que são acometidos por dores em região de face, é muito comum o consumo excessivo de medicamentos como analgésicos e antiinflamatórios, seja pela auto-medicação, seja pela receita profissional, dentista ou médico. A acupuntura, através do seu mecanismo de analgesia, colabora para a diminuição do consumo destes medicamentos. É também um ótimo auxílio no alívio imediato da dor pós-operatória em cirurgias odontológicas como de terceiros molares inclusos e diminuição do consumo de opióides em relação ao grupo controle (LAO et. Al, 1995). Isso é especialmente válido principalmente para os idosos ou pacientes que devido à sua condição de saúde, há necessidade de consumir vários medicamentos como os hipertensos, diabéticos, pacientes fibromiálgicos e outros.


2) CONDIÇÕES ONDE A ACUPUNTURA PODE NÃO SER EFICAZ

2.1. Odontalgias

   Na odontologia clínica, parte significativa das urgências está relacionada à dor de dente, essencialmente provenientes de doenças da polpa e do periodonto. As pulpites são as principais causas de dor de dente; suas manifestações clínicas são extremamente variáveis e dependem do grau de comprometimento da polpa dentária. Estas condições são de natureza diversa, podendo ser: pulpites, sensibilidade dentinária, periodontites, pericementites, fraturas dentárias, odontalgia atípica, pericoronarite e alveolite.
A dor pode ser latejante, pontada ou em choque; contínua ou intermitente; pode ser provocada pela mastigação, por alimentos frios, quentes e doces, ou pode ser espontânea e quando em fase avançada de pulpite, é contínua, acordando o indivíduo à noite durante o sono.
Algumas condições de dores dentárias são de difícil diagnóstico, como as fraturas dentárias e a odontalgia atípica. As odontalgias difusas podem gerar dor espalhada em todo o segmento cefálico, levando a quadros semelhantes a algumas cefaléias primárias como a Cefaléia em Salvas e a Hemicrania Paroxística.
   A acupuntura pode ser um coadjuvante, aliviando a dor aguda e espalhada como no caso da pericoronarite que devido à dor, gera limitação de abertura bucal e dor em músculos adjacentes. Mas a terapêutica em dores odontológicas é essencialmente operatória e, no caso das pulpites, consiste na eliminação parcial ou total da polpa dentária (ALVARES, 1990). Pode exigir uso concomitante de antiálgico ou antiinflamatório, principalmente no período inicial da cicatrização dos tecidos periapicais (fase inflamatória) e, quando há infecção periapical, a antibioticoterapia deve ser considerada, seja profilática ou terapêutica (SPALDING & SIQUEIRA, 1999).

2.2. Anormalidades da articulação temporomandibular

As anormalidades da articulação temporomandibular podem ser:
a) Anormalidades não inflamatórias (degenerativas) como a osteoartrose e deslocamento de disco articular (desarranjo interno da ATM)
b) Anormalidades inflamatórias como a artrite reumatóide
c) Fraturas
d) Tumores
e) Luxação
f) Anquilose
g) Hiperplasia de côndilo Os sinais e sintomas que indicam alguma anormalidade da ATM são: alteração dos movimentos mandibulares, limitação da abertura bucal, dor articular à função mandibular, restrição de função, ruídos articulares e alterações radiográficas assintomáticas da ATM. Travamentos da mandíbula com a boca aberta e com a boca fechada. Eventualmente as doenças e anormalidades da ATM provocam alterações na oclusão dentária e no perfil facial.

      A limitação de abertura bucal exige mais investigação. Deve-se inicialmente diferenciar a limitação de origem articular daquela de origem muscular.
    A acupuntura pode aliviar a dor quando estiver presente, mas pouco efeito terá se alterações articulares estiverem associadas, ou seja, o deslocamento anterior de disco sem redução não pode ser tratado através da acupuntura porque existe um travamento mecânico da articulação que impede a abertura de boca. Mas dores musculares quando presentes, a acupuntura pode ser eficaz.

2.3. Dores neuropáticas
     Entende-se como dores neuropáticas aquelas iniciadas ou causadas por lesão primária ou disfunção do sistema nervoso tanto central quanto periférico. A eficácia da acupuntura depende da integridade deste sistema e, portanto, qualquer alteração compromete o sucesso deste tratamento.
         As dores neuropáticas em região de face mais comumente encontradas na odontologia são:
Neuralgia de trigêmeo: caracteriza-se por dor paroxística, ou seja, forte e de curta duração, como sensação de sucessivas pontadas, facadas, queimação, choques elétricos, relâmpagos, ou penetração de calor de forte intensidade no território de distribuição de uma ou mais divisões do nervo trigêmeo.       Tem curta duração, instala-se e desaparece subitamente e reaparece a intervalos variados. Geralmente é profunda, mas pode ser superficial, especialmente quanto confinada ao lábio superior, supercílios ou regiões próximas à fronte e às pálpebras.
    Neuropatia traumática: esta queixa de dor neuropática decorre da lesão do nervo durante procedimentos cirúrgicos. Nestes casos, as regiões mais susceptíveis na cavidade oral são na mandíbula e na maxila. Cirurgias de dentes inclusos na mandíbula podem provocar lesão do nervo alveolar inferior ou no nervo lingual e gerar parestesias. Em algumas situações elas podem evoluir para quadros de disestesia e de dor neuropática.

Referências bibliográficas:
1. ALVARES, S. Emergência em Endodontia. In: ALVARES, S. Fundamentos em Endodontia. Rio de Janeiro: Quintessence Publishing Co., 1990. p.49-61.
2. CREMS - Centro Rhodia de Estudos Médicos Sociais e Limay Bernard Krief. 1º Estudo Master em Dor. 1º SIMBIDOR, São Paulo, 1994.
3. BRUNETTI, RF; OLIVEIRA, W. Diagnóstico diferencial. In: BARROS, JJ; RODE, W. (Eds) Tratamento das disfunções craniomandibulares. São Paulo: Santos, 1995. p. 101-116.
4. HARDY, JD; WOLFF, HG; GOODELL, H. Experimental evidence on the nature of cutaneous hyperalgesia. J. Clin. Invest. , v.29, p.115-140, 1950.
5. INGLE, JI; GLICK, DH; SCHAFFER, D. Diagnóstico diferencial e tratamento das dores oral e perioral. In: INGLE, BEVERIDGE. Endodontia . 2ª ed. Trad. José Carlos Borges Teles. Rio de Janeiro: Interamericana Ltda, 1979. p.450-517.
6. LAO, L & WONG, RH. Efficacy of Chinese acupuncture on postoperative oral surgery pain. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. , v.79, p. 423-8, 1995.
7. LIPTON, JA.; SHIP, JÁ; LARACH-ROBINSON, D. Estimated prevalence and distribution of reported orofacial pain in the United States. J. Am. Dent. Assoc. , v.124, p.115-121, 1993.
8. SPALDING, M.; SIQUEIRA, JTT. Processos infecciosos buco-dentais: avaliação de uma estratégia terapêutica. Rev. Gaúcha Odont. , v.47, n.2, p.110-114, 1999.
9. THOMÉ, W. Dores referidas nas regiões orofaciais. Monografia apresentada à Comissão de Aprimoramento em Odontologia Hospitalar. Hospital das Clínicas, FMUSP, 1993.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

ALIMENTOS QUE ALIVIAM A DOR: CÓLICAS

        A maioria das mulheres já sentiu (ou sente) cólica menstrual (dismenorreia) em algum momento da vida. A causa desse desconforto, que pode evoluir para dores intensas, é a liberação de uma substância chamada prostaglandina, responsável por fazer o útero se contrair para eliminar o endométrio por meio do sangramento da menstruação – devido à não existência de gestação. 
        A ginecologista e obstetra Erica Mantelli diz que, na maioria dos casos, não há motivos para se preocupar, mas é preciso ter atenção: “Se as dores costumam ser muito fortes e persistentes, acompanhadas de enjoos, diarreia, desmaios ou queda de pressão, é aconselhável procurar um especialista o quanto antes”. Assim, poderá ser indicado o melhor tratamento e saber se há alguma doença associada às cólicas, como a endometriose, os miomas, os cistos de ovários, a estenose cervical e os tumores pélvicos.

Como aliviar os sintomas

       Mesmo depois de consultar o ginecologista e constatar que está tudo bem, muitas mulheres continuam sentindo alguns desconfortos. Nesses casos, atividades físicas regulares, massagensacupuntura e a tradicional bolsa de água quente sobre o ventre podem ajudar muito. Mas você sabia que também pode contar com grandes aliados da cozinha? 
       Ter uma dieta balanceada durante todo o mês é indispensável, mas a sua alimentação pode ser incrementada dias antes da menstruação para diminuir as cólicas. “Estudos apontam que doses mais elevadas de cálcio, ômega 3, magnésio, zinco e vitaminas B6, C e E têm esse poder”, explica. Além disso, é aconselhável reduzir o consumo de bebidas alcoólicas, de gordura saturada (encontrada em carnes gordas, frangos com pele e embutidos) e, principalmente, de substâncias que estimulam a contração dos vasos do endométrio, como a cafeína, presente no café, nos chás e nos refrigerantes de cola.

Peixes
Os mais indicados são o salmão, o atum e a sardinha, pois possuem ômega 3 e ácidos graxos, ambos com ação anti-inflamatória.

Sementes, oleaginosas e azeites
Azeite de oliva, sementes e oleaginosas, como nozes, amêndoas e amendoim, contêm ácidos graxos e vitamina E, que estimulam a liberação de endorfinas e reduzem a liberação de prostaglandina.

Leite e derivados
Alimentos ricos em cálcio, como o leite e derivados, também são indicados para amenizar as cólicas. Isso porque o cálcio age diretamente na musculatura lisa do útero, relaxando-a e diminuindo a intensidade das contrações dolorosas.

Frutas e hortaliças
Ricas em nutrientes e vitaminas, as frutas e hortaliças ajudam na digestão e não deixam aquela sensação de inchaço, amenizando o mal-estar das cólicas. Cenoura, tomate, verduras de folhas escuras (como agrião, couve e rúcula), banana e abacate, entre outras opções naturais, são indispensáveis no cardápio.

Soja e derivados
Produtos à base de soja e seus derivados dão energia, aumentam a disposição e ajudam a superar a fadiga típica do período menstrual.


Chás
Os chás mais indicados são os de louro, artemísia, canela e gengibre, pois aliviam as dores e auxiliam na limpeza do aparelho reprodutor.


Chocolate
O chocolate tem o aminoácido triptofano, que atua na ativação da serotonina, molécula envolvida na regulação do humor. Comer pequenas quantidades do tipo meio amargo ou com 70% de cacau pode aliviar as dores da menstruação.




sábado, 26 de janeiro de 2013

Alzheimer: esclareça suas dúvidas

Mal de Alzheimer - Especialistas no assunto esclarecem as principais dúvidas sobre a doença que apaga a memória
 
1. Afinal, o que é a doença?
Trata-se da destruição progressiva dos neurônios. A devastação começa no hipocampo, a área onde se processa a memória e, com o tempo, se alastra por outros cantos do cérebro. Por isso, ficam comprometidas funções cognitivas essenciais, como a gravação das lembranças e a orientação do indivíduo no tempo e no espaço.

"São dois os mecanismos por trás da doença", diz Paulo Caramelli, coordenador do Departamento de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia. "O primeiro é a formação das placas betaamilóides." Como elas aparecem? Explicamos: normalmente existem no cérebro proteínas precursoras de outro tipo de proteína, a tal betaamilóide. "Elas ficam ancoradas nas membranas dos neurônios, mas ainda não se sabe ao certo qual a sua função", conta Caramelli.

Num processo natural, essas proteínas são quebradas por enzimas e os seus fragmentos perdem-se em meio às células — nada disso, diga-se, oferece risco à cachola. O problema é quando, por motivos ainda obscuros, outras enzimas entram em ação para dividir as precursoras de betaamilóide. Elas quebram essas proteínas no lugar errado e o resultado dessa interação mal feita são novas proteínas. "Só que elas não são mais inócuas. Ao contrário, tornam-se tóxicas", afirma Caramelli. Essas novas moléculas, por sua vez, passam a depositar-se no cérebro, formando verdadeiras placas. "E isso prejudica as sinapses, a comunicação entre um neurônio e outro, o que os torna mais limitados", explica o neurologista. Resultado: as células nervosas morrem.

As explicações não param por aqui. Lembra-se do que dissemos? Existem duas alterações que disparam o Alzheimer. Vamos à segunda: um problema com outra proteína, a Tau. "Ela é produzida naturalmente no cérebro e é fundamental para o transporte de substâncias entre as células", descreve Caramelli. A Tau participa de uma verdadeira rede de comunicação e troca de nutrientes na massa cinzenta. "Mas, nos portadores de Alzheimer, essa proteína fica desestabilizada e não funciona como deveria. Daí, todo o equilíbrio entre os neurônios é prejudicado", diz Caramelli.

Essa profusão de alterações microscópicas leva à falência e à morte das células nervosas. No começo, a principal vítima é a memória recente. Gradualmente, as lembranças mais antigas também se esfarelam. E, com o avanço do mal, o órgão que comanda o corpo acaba se aposentando.
2. Por que esse problema neurodegenerativo aparece? Ainda não existe uma resposta absoluta para essa questão. "Nós já sabemos que a predisposição genética e o próprio envelhecimento são seus principais fatores de risco", conta o geriatra Paulo Canineu, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. "Foram identificados recentemente vários genes alterados que determinam o mal", completa o médico, que é diretor clínico do Hiléa Vivência e Assistência a Idosos, em São Paulo. Além disso, a ciência vem demonstrando que as condições responsáveis pelos distúrbios cardiovasculares contribuem para a degeneração dos neurônios. Ou seja, gordura abdominal em excesso, diabete, colesterol nas alturas e pressão arterial elevada podem dar um bom empurrão.
Hoje alguns especialistas já arriscam dizer que existem duas variações de Alzheimer. "Noventa e cinco por cento dos portadores apresentam a doença esporádica, aquela que surge depois dos 60 anos sem que haja necessariamente a presença de outros casos na família", diz Canineu. "E 5% têm o que o chamamos de Alzheimer familiar. Só que, nesse caso, o mal pode acometer o indivíduo antes dos 60 anos e evoluir mais rapidamente", conclui.

3. Quais os seus sinais? O principal deles é a constante perda de memória. As lembranças recentes tendem a se evaporar num piscar de olhos. "O indivíduo não consegue fixar nem um recado", exemplifica o geriatra Paulo Canineu. Além da memória em bancarrota, alguns portadores apresentam alterações de comportamento, dificuldades de concentração e tendem a ficar absortos em pensamentos distantes da realidade. "Muitos perdem a capacidade de julgamento e a orientação no tempo e no espaço", lembra o especialista. Com o progresso da doença, o indivíduo pode tornar-se depressivo e viver com alucinações.
4. Como são feitos o diagnóstico e o tratamento?
O diagnóstico é baseado na própria história do paciente. "Ele é feito por exclusão", conta o neurologista Paulo Caramelli. São avaliados os sintomas e, para afastar a possibilidade de outra encrenca, costumam ser solicitados exames de sangue e imagem, como ressonância da cabeça. "Hoje o diagnóstico tem entre 85% e 90% de segurança", constata o médico.

E o tratamento? Em primeiro lugar, é importante deixar claro que a doença ainda não tem cura nem o quadro pode ser revertido. Mas existem medicamentos que barram o seu avanço, o que permite o controle da degeneração. "Eles evitam a perda das funções cognitivas", diz o neurologista Ivan Okamoto, coordenador do Núcleo de Envelhecimento Cerebral da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp. São duas as classes de remédio responsáveis pelo benefício: os inibidores de acetilcolinesterase, mais receitados nos casos classificados como leves e moderados, e os antiglutamatos, indicados a portadores em estágio mais avançado. A apresentação é em forma de comprimidos, que devem ser tomados diariamente. A novidade é que a rivastigmina, um princípio ativo do primeiro grupo citado, já pode ser encontrada como adesivo para a pele.

5. Como afastar a doença?
Quando o assunto é Alzheimer, prevenção ainda é palavra controversa. Como os genes entram em jogo e algumas dúvidas rondam o mal, os médicos hesitam em prescrever medidas 100% eficazes. O que já se sabe, no entanto, é que botar a cabeça para funcionar é regra básica para protegê-la. Manter a massa cinzenta ativa — exercitando-se intelectualmente, trabalhando e interagindo com outras pessoas — aumenta as chances de se ver livre do mal. E o geriatra Paulo Canineu alerta: "Tanto o analfabeto quanto o catedrático podem ter Alzheimer. O grande perigo é se aposentar e parar de exercitar o cérebro."

Estudos recentes revelam, aliás, que os males cardiovasculares e o diabete tornam o organismo mais suscetível à doença neurodegenerativa. Dessa forma, conservar uma dieta equilibrada, com menos gordura e açúcar, praticar atividades físicas e tomar cuidados extras com a glicemia e a pressão arterial são medidas importantes para blindar a cabeça e fazê-la pensar por muito, muito tempo.


6. Até que ponto a perda de memória em razão da idade é normal?


O envelhecimento torna a memória, digamos, menos afiada. Isso é natural e não deve preocupar. "Com o passar do tempo as pessoas demoram mais tempo para se lembrar das coisas", observa o neurologista Ivan Okamoto. "É que as mudanças no cérebro afetam a velocidade do processamento da memória", explica. Vale esclarecer também que, independentemente da faixa etária, qualquer indivíduo está sujeito aos "brancos" e dificuldades de recordar uma data ou um nome. "A memória também depende do nosso estado geral, ou seja, se estamos cansados, mal alimentados ou alterados psicologicamente", salienta Paulo Canineu. "Por isso, lapsos podem acontecer em qualquer fase da vida."

O sinal de alerta deve ser acionado no momento em que as perdas de memória tornam-se freqüentes e passam a atrapalhar a rotina. "Isso acontece, por exemplo, quando a pessoa vai ao supermercado e não sabe como voltar de lá", diz Paulo Canineu. Ou, então, quando ela se esquece como se prepara aquele prato de sempre. Paulatinamente, vem esquecimento atrás de esquecimento. Isso impede que o indivíduo se mantenha atualizado e compromete suas atividades no dia-a-dia. Acentuam-se, assim, as suspeitas de que o responsável pela memória cada vez mais frágil seja o Alzheimer.

7. Por que o número de portadores de Alzheimer cresce mundo afora?
Os médicos esboçam duas explicações para o fenômeno. A primeira delas diz respeito à maior expectativa de vida das pessoas em todo o planeta. "A longevidade aumenta, inclusive no Brasil", lembra Paulo Caramelli. E a idade, como mencionamos, é um dos principais fatores de risco para a eclosão da doença. Em outras palavras, o risco aumenta na medida que os anos passam — tanto faz ser homem ou mulher. Outro motivo é a maior precisão nos diagnósticos. "Hoje os médicos conhecem mais a doença, estão cientes do que ela é", acredita o neurologista. No fim das contas, o próprio holofote que a medicina lançou sobre a doença propicia, felizmente, que mais casos sejam detectados e, conseqüentemente, tratados.
 
Fonte: Revista Saúde; por Diogo Sponchiato