domingo, 26 de fevereiro de 2012

Uso de US (Ultra Som) no Pós Operatório de Cirurgia Vascular

Introdução

O uso da pele como via de administração potencial de fármacos visando uma ação sistêmica tem merecido destaque na ciência atual e mudou o antigo conceito de que a pele seria uma barreira totalmente impermeável à passagem de solutos. Os sistemas de administração transdérmica de fármacos são desenvolvidos para liberar o fármaco através da pele visando uma ação local ou sistêmica e através do US esse fármaco e mais facilmente atravessado a barreira da pele e alcança tecidos mais profundos.
Com o desenvolvimento científico vigente, técnicas muito eficientes começaram a aparecer e a se firmar no contexto científico. Assim a iontoforese , a fonoforese , a vibroterapia inercial e o calor moderado são alternativas, em separado, capazes de promover a permeação cutânea na pele, carreando para o seu interior fármacos ativos, com funções já conhecidas.
Neste trabalho buscamos resposta para a redução de edemas e hematomas no local pós cirurgico, utilizando a técnica de indução direta do fármaco (Heparina gel) sobre a pele e da técnica combinada da fonoforese, iontoforese (US) , vibroterapia inercial e calor moderado na permeação transcutânea ativa.
Objetivo
Comparar a eficácia de dois métodos de permeação cutânea  e permeação transcutânea ativa (US), na redução de edema e hematomas.
Literatura

O fármaco necessita permear o estrato córneo para chegar ao seu local de ação. Desse modo, a utilização clínica de fármacos pela via transdérmica está limitada pela capacidade destes ultrapassarem a barreira da pele. A promoção de permeação de fármacos através da pele pode ter os seguintes resultados: 1) Melhoramento da liberação do fármaco a partir de preparações farmacêuticas transdérmicas; 2) Aumento do fluxo de fármaco através da pele ou retenção de fármaco nesta; 3) Aumento da liberação localizada, tópica ou dos tecidos alvos através da pele; 4) Uma combinação dos três ítens anteriores.
Objetivando por um lado ultrapassar a impermeabilidade da pele e a variabilidade biológica, e por outro lado aumentar o número de fármacos candidatos a atuarem dentro da pele, vários métodos tem sido propostos. Dentre estes encontramos a sinergia advinda do uso simultâneo da iontoforese, fonoforese , vibroterapia inercial e efeito térmico.

O processo de permeação transcutânea ativa é não invasivo, totalmente indolor, não origina hematomas nem qualquer desconforto, não requer melanges estéreis de modo que é extremamente bem aceito na área de Medicina Estética.
O equipamento utilizado neste trabalho consiste basicamente de um aparelho dotado de dispositivo de aplicação no qual de forma sinergética, complementar e simultânea estão disponíveis ondas mecânicas na gama do ultrasom (fonoforese), campo elétrico de intensidade, polaridade e forma de onda adequados (iontoforese), além de ondas vibratórias (mecânicas) de baixa frequência com parâmetros convenientemente selecionados (vibroterapia nercial) e aquecimento moderado.
A vibroterapia inercial é explicada de acôrdo com a Mecânica Vibratória onde as ondas de choque de baixa frequência possuem a propriedade de vencer as forças de adesão e de coesão, ou seja, as forças de Van der Waals, diminuindo a tensão superficial dos líquidos, no caso da Heparina gel  espalhado topicamente na área sob tratamento bem como no estrato córneo, ajudando a desorganizar as estruturas edemaciadas e arrocheadas intercelulares aumentando em consequência a permeabilidade cutânea . Cria-se também uma componente de pressão que força ciclicamente a Heparia gel contra o estrato córneo, facilitando sua permeação.
Internamente ao aplicador do aparelho de permeação transcutânea ativa utilizado neste estudo existe uma unidade motora comandada pelo sistema microcontrolado que através de técnicas de PWM ( pulse width modulation ) pode produzir diversos tipos de vibrações inerciais com amplitudes, frequências e formas de onda particularmente estudadas de modo a produzir micropulsações de amplo espectro de frequências que são transferidas à superfície da pele, objetivando inclusive a obtenção de estímulo físico, agindo diretamente sobre as terminações sensitivas cutâneas e promovendo vasodilatação uniforme na área sob tratamento, sendo que o aquecimento moderado também contribui neste sentido .

Observe-se que na formulação dos melanges empregam-se fármacos que complementam tal ação, existindo desta maneira uma solução físico-química combinada para a obtenção de aumento da permeabilidade do estrato córneo associado à uma vasodilatação homogênea mais rápida e eficiente.
A fonoforese é uma variante do ultra-som terapêutico direto, em gama de frequências diferenciadas , na qual substâncias biológicamente ativas são combinadas ao material de acoplamento acústico (mecânico) do ultra-som para serem forçadas através dos tecidos. Consiste assim basicamente na utilização de ondas mecânicas de alta frequência na gama dos ultra-sons com parâmetros controlados para facilitar a penetração dos princípios ativos contidos na Heparina gel.
As ondas ultra-sônicas, notadamente as de frequências mais baixas, da ordem de 1MHz e inferiores que estão abaixo da gama do ultra-som terapêutico possuem a propriedade de otimizar a cavitação transitória no seio do melange sendo que o colapso das microbolhas na interface Heparina/estrato córneo  cria ondas de alta pressão que originam microjatos de alta velocidade que bombardeiam a fase sólida, no caso a superfície externa do estrato córneo bem como dos queratinócitos adjacentes ajudando a criar os chamados "aqueous channels" que aumentam a permeabilidade da epiderme e consequentemente também sua condutividade elétrica, permitindo a introdução e facilitando os processos químicos e fisiológicos envolvidos na metabolização através dos fármacos sendo utilizados .
Macias e Macias em 1988 conceituam a iontoforese como sendo uma transferência iônica e a introdução de substâncias no interior do corpo com fins terapêuticos mediante uma corrente elétrica contínua de US.
A passagem da corrente favorece também a despolimerização dos proteoglicanos que encontram-se em um meio rico em água e ions minerais desencadeando uma série de processos metabólicos internos, os quais auxiliados pelos fármacos da Heparina provocam a quebra dos processos inflamatórios e dos tecidos sanguineos coagulados.

Conclusão:

Por muitas e muitas décadas, o interesse em utilizar a pele como meio de permeação sistêmica de princípios ativos vem crescendo de maneira impactante. Porém, a barreira mais superficial da pele, o stratum corneum, impossibilita por suas características morfológicas e funcionais a penetração de uma série de agentes. Assim, a taxa de entrega passiva de drogas, normalmente é dependente de duas propriedades fisicoquímicas: a solubilidade e coeficiente de partição da droga. Duas estratégias comuns são utilizadas para aumentar a penetração de princípios, modificação da atividade termodinâmica da droga aplicada e o uso de potencializadores químicos. Estes últimos seriam responsáveis por aumentar a permeação da droga por vários mecanismos, os quais incluem a alteração da organização da estrutura de lipídeos intracelular do stratum corneum otimizando a fluidificação dos lipídeos dessa área, alterando as proteínas celulares e em alguns casos extraindo os lipídeos intracelulares. Todavia, o resultado do aumento da permeação de princípios utilizando-se dessa técnica é um tanto quanto modesto especialmente quando falamos em drogas hidrofílicas. Algumas outras abordagens como iontoforese, sonoforese, a combinação de ultrassom e microagulhas estão em estudo atualmente com o objetivo de melhorar a permeação de drogas tanto hidrofílicas quanto lipofílicas. Assim, esse estudo de revisão se propõem a apresentar o uso da iontoforese isoladamente e em conjunto com outras formas de abordagem como a potencialização química, eletroporação, fonoforese.

Wang, Y., Thakur, R., Fan, Q., Michniak, B., 2005, Transdermal iontophoresis: combination strategies to improve transdermal iontophoretic drug delivery. European Journal of Pharmaceutics and Biopharmaceutics. 60: 179-191.
Muito interessante é o fato de que as conclusões do artigo publicado por Wang et al. sugerem que a combinação da iontoforese com a eletroporação, ou seja, a aplicação de uma corrente de alta voltagem, potencializadores químicos, fonoforese, microagulhas e material para troca iônica pode promover uma entrega do princípio mais facilitada e com maior precisão mesmo em situações as quais envolvam moléculas com pesos maiores.