
O uso da pele como via de administração potencial de fármacos visando uma ação sistêmica tem merecido destaque na ciência atual e mudou o antigo conceito de que a pele seria uma barreira totalmente impermeável à passagem de solutos. Os sistemas de administração transdérmica de fármacos são desenvolvidos para liberar o fármaco através da pele visando uma ação local ou sistêmica e através do US esse fármaco e mais facilmente atravessado a barreira da pele e alcança tecidos mais profundos.
Com o desenvolvimento científico vigente, técnicas
muito eficientes começaram a aparecer e a se firmar no contexto científico.
Assim a iontoforese , a fonoforese , a vibroterapia inercial e o calor moderado
são alternativas, em separado, capazes de promover a permeação cutânea na pele,
carreando para o seu interior fármacos ativos, com funções já
conhecidas.
Neste trabalho buscamos resposta para a redução de edemas e hematomas no local pós cirurgico, utilizando a
técnica de indução direta do fármaco (Heparina gel) sobre a pele e da técnica combinada da
fonoforese, iontoforese (US) , vibroterapia inercial e calor moderado na permeação
transcutânea ativa.
Objetivo
Comparar a eficácia de dois métodos de permeação
cutânea e permeação transcutânea ativa (US), na redução de edema e hematomas.
Literatura
O fármaco necessita permear o estrato córneo para
chegar ao seu local de ação. Desse modo, a utilização clínica de fármacos pela
via transdérmica está limitada pela capacidade destes ultrapassarem a barreira
da pele. A promoção de permeação de fármacos através da pele pode ter os
seguintes resultados: 1) Melhoramento da liberação do fármaco a partir de
preparações farmacêuticas transdérmicas; 2) Aumento do fluxo de fármaco através
da pele ou retenção de fármaco nesta; 3) Aumento da liberação localizada, tópica
ou dos tecidos alvos através da pele; 4) Uma combinação dos três ítens
anteriores.
Objetivando por um lado ultrapassar a
impermeabilidade da pele e a variabilidade biológica, e por outro lado aumentar
o número de fármacos candidatos a atuarem dentro da pele, vários métodos tem
sido propostos. Dentre estes encontramos a sinergia advinda do uso simultâneo da iontoforese, fonoforese ,
vibroterapia inercial e efeito térmico.
O processo de permeação transcutânea ativa é não
invasivo, totalmente indolor, não origina hematomas nem qualquer desconforto,
não requer melanges estéreis de modo que é extremamente bem aceito na área de
Medicina Estética.
O equipamento utilizado neste trabalho consiste
basicamente de um aparelho dotado de dispositivo de aplicação no qual de forma
sinergética, complementar e simultânea estão disponíveis ondas mecânicas na gama
do ultrasom (fonoforese), campo elétrico de intensidade, polaridade e forma de
onda adequados (iontoforese), além de ondas vibratórias (mecânicas) de baixa
frequência com parâmetros convenientemente selecionados (vibroterapia nercial) e
aquecimento moderado.
A vibroterapia inercial é explicada de acôrdo com
a Mecânica Vibratória onde as ondas de choque de baixa frequência possuem a
propriedade de vencer as forças de adesão e de coesão, ou seja, as forças de Van
der Waals, diminuindo a tensão superficial dos líquidos, no caso da Heparina gel
espalhado topicamente na área sob tratamento bem como no estrato córneo,
ajudando a desorganizar as estruturas edemaciadas e arrocheadas intercelulares aumentando em
consequência a permeabilidade cutânea . Cria-se também uma componente de pressão
que força ciclicamente a Heparia gel contra o estrato córneo, facilitando sua
permeação.
Internamente ao aplicador do aparelho de permeação
transcutânea ativa utilizado neste estudo existe uma unidade motora comandada
pelo sistema microcontrolado que através de técnicas de PWM ( pulse width
modulation ) pode produzir diversos tipos de vibrações inerciais com amplitudes,
frequências e formas de onda particularmente estudadas de modo a produzir
micropulsações de amplo espectro de frequências que são transferidas à
superfície da pele, objetivando inclusive a obtenção de estímulo físico, agindo
diretamente sobre as terminações sensitivas cutâneas e promovendo vasodilatação
uniforme na área sob tratamento, sendo que o aquecimento moderado também
contribui neste sentido .
Observe-se que na formulação dos melanges
empregam-se fármacos que complementam tal ação, existindo desta maneira uma
solução físico-química combinada para a obtenção de aumento da permeabilidade do
estrato córneo associado à uma vasodilatação homogênea mais rápida e
eficiente.
A fonoforese é uma variante do ultra-som
terapêutico direto, em gama de frequências diferenciadas , na qual substâncias
biológicamente ativas são combinadas ao material de acoplamento acústico
(mecânico) do ultra-som para serem forçadas através dos tecidos. Consiste assim
basicamente na utilização de ondas mecânicas de alta frequência na gama dos
ultra-sons com parâmetros controlados para facilitar a penetração dos princípios
ativos contidos na Heparina gel.
As ondas ultra-sônicas, notadamente as de
frequências mais baixas, da ordem de 1MHz e inferiores que estão abaixo da gama
do ultra-som terapêutico possuem a propriedade de otimizar a cavitação
transitória no seio do melange sendo que o colapso das microbolhas na interface
Heparina/estrato córneo cria ondas de alta pressão que
originam microjatos de alta velocidade que bombardeiam a fase sólida, no caso a
superfície externa do estrato córneo bem como dos queratinócitos adjacentes
ajudando a criar os chamados "aqueous channels" que aumentam a permeabilidade da
epiderme e consequentemente também sua condutividade elétrica, permitindo a
introdução e facilitando os processos químicos e fisiológicos envolvidos na
metabolização através dos fármacos sendo utilizados .
Macias e Macias em 1988 conceituam a iontoforese
como sendo uma transferência iônica e a introdução de substâncias no interior do
corpo com fins terapêuticos mediante uma corrente elétrica contínua de US.
A passagem da corrente favorece também a
despolimerização dos proteoglicanos que encontram-se em um meio rico em água e
ions minerais desencadeando uma série de processos metabólicos internos, os
quais auxiliados pelos fármacos da Heparina provocam a quebra dos processos inflamatórios e dos tecidos sanguineos coagulados.
Conclusão:
Por muitas e muitas décadas, o interesse em utilizar a pele como meio de
permeação sistêmica de princípios ativos vem crescendo de maneira impactante.
Porém, a barreira mais superficial da pele, o stratum
corneum, impossibilita por suas características morfológicas e
funcionais a penetração de uma série de agentes. Assim, a taxa de entrega
passiva de drogas, normalmente é dependente de duas propriedades fisicoquímicas:
a solubilidade e coeficiente de partição da droga. Duas estratégias comuns são
utilizadas para aumentar a penetração de princípios, modificação da atividade
termodinâmica da droga aplicada e o uso de potencializadores químicos. Estes
últimos seriam responsáveis por aumentar a permeação da droga por vários
mecanismos, os quais incluem a alteração da organização da estrutura de lipídeos
intracelular do stratum corneum otimizando a
fluidificação dos lipídeos dessa área, alterando as proteínas celulares e em
alguns casos extraindo os lipídeos intracelulares. Todavia, o resultado do
aumento da permeação de princípios utilizando-se dessa técnica é um tanto quanto
modesto especialmente quando falamos em drogas hidrofílicas. Algumas outras
abordagens como iontoforese, sonoforese, a combinação de ultrassom e
microagulhas estão em estudo atualmente com o objetivo de melhorar a permeação
de drogas tanto hidrofílicas quanto lipofílicas. Assim, esse estudo de revisão
se propõem a apresentar o uso da iontoforese isoladamente e em conjunto com
outras formas de abordagem como a potencialização química,
eletroporação, fonoforese.
Wang, Y., Thakur, R., Fan, Q., Michniak, B.,
2005, Transdermal iontophoresis: combination strategies to improve transdermal
iontophoretic drug delivery. European Journal of Pharmaceutics and
Biopharmaceutics. 60: 179-191.
Muito interessante é o fato de que as conclusões
do artigo publicado por Wang et al. sugerem que a
combinação da iontoforese com a eletroporação, ou seja, a aplicação de uma
corrente de alta voltagem, potencializadores químicos, fonoforese, microagulhas
e material para troca iônica pode promover uma entrega do princípio mais
facilitada e com maior precisão mesmo em situações as quais envolvam moléculas
com pesos maiores.